Autor: Ignacio-Aguaded – Tradução: Lola Lerma (Universidade do Minho/Portugal

Um debate que se tem vindo a diluir nestes últimos anos é o da controvérsia em torno do canal privilegiado ou exclusivo de divulgação da investigação científica. Até há duas décadas, as revistas online ou virtuais estavam desprestigiadas e muitas agências de avaliação científica nacionais não valorizavam os contributos destes canais ou consideravam-nos de segundo nível. Partiam do raciocínio, hoje inexplicável, de que aqueles meios de divulgação eram de inferior hierarquia, face à edição impressa que se mantivera inalterável desde a origem da conceção das revistas científicas e, mais ainda, no próprio ADN da publicação e do livro, na imprensa de Gutenberg.

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Hoje passamos quase para outro extremo. Não é fácil encontrar bibliotecários que afirmem que os seus centros não recebem revistas impressas se estas têm edições eletrónicas, como se ambas não fossem compatíveis e, mais ainda, complementares e necessárias. Muitos especialistas em biblioteconomia apostam no canal duplo para as revistas de prestígio e com história. Ã‰ absurdo pensar que uma plataforma OJS com todas as suas virtualidades (que são imensas em versão 3.0) possa substituir completamente o fundo editorial impresso de uma revista com tradição e muitas páginas e histórias “impressas”.

Evidentemente não se trata de defender arqueologia passada, mas sim de situar o devido valor nos diferentes canais de divulgação científica. As revistas online têm vindo a alcançar uma potencialidade imensa devido às vantagens da Internet e das aplicações desenvolvidas para a sua gestão, tanto nos processos de revisão como de edição e difusão. Este facto não é incompatível com manter edições impressas com um longo historial de edição que expandem a sua cobertura e são fundos bibliotecários, alguns deles com imenso valor.

08-magazineO futuro da edição escrita ainda não está escrito. Alguns agoureiros da biblioteconomia já auguram o fim das revistas, quanto menos estamos a viver um esbatimento do papel dos cabeçalhos. Hoje já não se consultam “revistas” mas artigos soltos na “nuvem” através das suas palavras-chave. Será que estas macrobases não eliminaram o sentido unitário da publicação? Também as redes sociais científicas divulgam os trabalhos de forma isolada, esbatendo os seus cabeçalhos iniciais e adquirindo estas valor apenas em função do prestígio da sua citação.

É evidente que o mundo científico está a transformar-se a passos largos, como quase todo o orbe. Neste sentido, também a divulgação científica está a revolucionar todos os padrões e o próprio conceito da revista científica, que cada vez se parece menos com o clássico livro impresso. Este é um debate aberto e apaixonante… Entretanto defendamos o nosso futuro com o nosso passado e o nosso presente. Revistas impressas, revistas online, revistas globais…

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