Tradução: Lilian Rocha-Ribeiro

limitações

Expressar as limitações do estudo realizado é uma tarefa que muitas vezes, especialmente por investigadores novatos, se tende a evitar. Muitos pensam que as limitações reduzem o valor à investigação realizada durante um longo tempo e muito esforço. No entanto, é o contrário, expressar as limitações de um estudo lhe proporciona maior validade e rigorosidade ao processo de investigação desenvolvido.

Quando os autores explicam e comentam as limitações de seu estudo evidenciam maior domínio das características da população ou fenômeno avaliado, da metodologia e instrumentos aplicados, do alcance dos resultados obtidos e do corpo teórico e investigativo que formam parte dos antecedentes da investigação realizada, ou seja, que longe de desmerecer os resultados  obtidos lhes proporciona um valor agregado de rigorosidade e validade.

No próprio manual de publicação da American Psychological Association (APA, p. 36), se sugere reconhecer as limitações de sua investigação, e apresentar explicações alternativas dos resultados; discutir as possibilidades reais de generalização e validez externa dos resultados. Além disso,  se adverte que nesta análise deve-se ter em conta as diferenças entre as populações-alvo e a amostra envolvida na investigação; e para as intervenções, discutir as características que podem ser mais ou menos aplicáveis em circunstâncias não consideradas na pesquisa, comentar as medidas utilizadas e quais poderiam  ter sido usadas, o tempo de medição, incentivos, taxas de conformidade, entre outros elementos que revelam a importância de expressar as limitações.

Apesar da importância que tem esta parte nos artigos científicos, muitos trabalhos são publicados sem estes elementos. A responsabilidade deste fenômeno recai sobretudo nos autores, mas considero que é responsabilidade dos revisores promover e exigir que se evidenciem as limitações dos trabalhos que revisam.

Alguns fragmentos de limitações em artigos publicados em revistas acadêmicas (sobretudo da área de tecnologia educativa) podem ilustrar estes comentários:

  • IRRODL, 2014, 15(6) p. 59,“Whilst the goal of phenomenographic research is to achieve a complete picture of variation, the results can never be completely representative of all the different ways of conceptualizing or experiencing a phenomenon (Åkerlind, 2005). Because of the scope of this initial research project, the variation represented in the results is limited in accordance with the number of participants. Generally, it is recommended that phenomenographic studies involve 15 to 20 participants (Trigwell, 2000). This preliminary study involved only five. Additional studies should be done in order to more fully examine the variation of experience. Finally, the results may not necessarily be generalized to other programs or institutions as the participants are all members of the same master’s program, which may, itself, be idiosyncratic”.

 

  •  Pixel-bit, 2014, 45, p. 33,“O número de alunos hospitalizados participantes é inferior ao que num principio se estimou. O principal motivo foi o reduzido número de alunos hospitalizados que cumprieram os requisitos pré-fixados para a coleta de informação. É muito difícil fazer previsões sobre o número de estudantes que podem participar durante um período, é por este motivo que a duração da coleta de dados deveria ser muito ampla, para que desta maneira o número de participantes pudesse aumentar. Com relação ao projeto da ferramenta ALTER existiu uma falta de consenso prévio com  os professores, mesmo que o interesse pelos docentes em participar tenha sido evidente, não desejavam investir tanto tempo como era necessário, pelo que inferimos que nossa visão sobre sua participação pôde ser errônea”.

 

  • Comunicar, 2015, 45, p.35, “Entre as limitações da investigação é preciso mencionar que, se a metodologia permite alcançar os objetivos principais, possibilitando uma explicação profunda e direta da constituição da Internet como uma fonte de oportunidades para um envelhecimento ativo, algumas questões de interesse precisariam de um tratamento complementar, ao considerar como uma primeira aproximação que requer maior profundidade”.

 

  • Educational Technology & Society, 2016, 19 (4), p.84, “This study may have been limited by its structure. First, the experiment was conducted online in the form of a college assignment over 1 week, and the learners participated individually. Although the instructor provided special instructions in class for carrying out the assignment, the students’ multimedia learning may have been interrupted. Nevertheless, the findings of the study provide insight into the effectiveness of various types of WOE used in pre-training to optimize the cognitive load and enhance learners’ comprehension of the content. Second, learning can be affected by various elements such as synchronization, pauses, and interactions that were not considered in this study. It seems necessary to explore the effects of interactions in further studies to lead to successful learning experiences”.

 

  • RED, 2016, 52, Artíc. 5, p.22, “Em relação à validação do instrumento, a pesar de algumas limitações, foram obtidos resultados satisfatórios tanto nas provas de validade convergente. Assim mesmo, apesar dos problemas de validade discriminada detectadas entre a intenção comportamental e a utilidade, a análise fatorial realizada reflete uma aceitável bondade no ajuste do modelo”. 

Como é possível apreciar nestes fragmentos, alguns mais precisos que outros em evidenciar as limitações, de alguma maneira refletem as principais deficiências de seus resultados a considerar em possíveis réplicas destas investigações, tornando-se de grande utilidade para a comunidade científica na difícil tarefa de “não tropeçar novamente na mesma pedra”.

 

 

 

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