Tradução: Lilian Rocha-Ribeiro
A endogamia, «atitude social de rejeição à incorporação de membros alheios ao próprio grupo ou instituição» (DRAE, 2016), é, junto com o plágio um dos grandes males que ameaça a ciência; por vezes se privilegia o investigador e suas relações sociais em detrimento da própria investigação.
Existem vários tipos de ações que podem ser consideradas endogâmicas e que não se revestem em descrédito para a publicação, ainda que todas igualmente reprováveis e com certo prejuÃzo para o progresso da ciência. Entre as primeiras estaria privilegiar trabalhos dos próprios editores ou de investigadores de seu cÃrculo, da própria universidade, a outros artigos que poderiam ter mais valor cientÃfico, mas que carecem dessa relação direta com a revista. Com isso se privilegia a pessoa em vez do conteúdo.
Outro indicador de endogamia é a auto-citação, na qual a revista cita seus próprios artigos ou, para ser mais sutil, estabelece acordos com outras revistas ou que as revistas do mesmo grupo editorial façam citações entre si, tendo assim mais citações, o que irá aumentar seu fator de impacto. Em qualquer caso, o objetivo procurado não é nem a originalidade, nem a relevância, nem o impacto da investigação.
No entanto, esta atitude, que abundava há anos, está se tornando mais facilmente detectada pelos avaliadores, que contam com mecanismos para determinar o grau de endogamia de uma publicação e agir em conformidade. Assim, autocitações excessivas ou intercâmbio de citações podem ser motivo para a remoção de uma revista do JCR. Da mesma forma, a maioria das revistas de qualidade têm um código de ética que refletem os compromissos também em relação à endogamia, por exemplo, na Revista Comunicar encontramos que «editores avaliam os trabalhos submetidos para publicação apenas com base no mérito cientÃfico dos conteúdos» utilizando para evitar distorções uma avaliação cega por pares, na qual os revisores desconhecem os dados de autoria dos artigos.
No entanto, esta atitude social de beneficiar a si mesmo contra o outro é uma doença endêmica que afeta todas as áreas da sociedade e que por estar no imaginário coletivo é muito difÃcil de erradicar. Assim, a ciência, como defensora de mudanças, deve abrir o caminho, como já começou a fazer, com base na objetividade, na honestidade e no compromisso com a pesquisa.