Autor: Luis-Miguel Romero Tradução: Vanessa Matos
https://doi.org/10.3916/escuela-de-autores-160
Existem várias maneiras de divulgar os resultados de uma pesquisa científica. Embora o artigo científico seja o caminho por excelência, já que com ele está garantida a revisão editorial e por pares, bem como uma comunidade científica específica de leitores e a inclusão do material em bases de dados, existem outras plataformas e suportes que darão visibilidade ao estudo e servirão, por sua vez, como meios de transferência, como livros e capítulos de livros, produtos de pesquisa, comunicações e pôsteres em congressos e reuniões científicas, conferências, documentários, artigos informativos, blogs e videoblogs, entre outros.
Um congresso é um encontro de acadêmicos que pesquisam um tema específico, embora também seja normalmente aberto a participantes do setor profissional e a estudantes e pesquisadores em formação. Uma das suas características fundamentais é que normalmente os congressos são convocados e / ou endossados por uma instituição de ensino superior ou centro de investigação, bem como por associações, sociedades, redes e grupos de investigação. Outra das peculiaridades que esses encontros apresentam é a periodicidade – geralmente anual ou semestral – e que, como as revistas, possuem um processo prévio de revisão por pares dos resumos, comunicações completas ou pôsteres que vão ser apresentados.
Como os congressos podem reunir centenas ou milhares de participantes, são organizados internamente em sessões, simpósios ou mesas simultâneas, embora também tenham, normalmente, palestras plenárias proferidas por conceituados especialistas, convidados pela comissão organizadora. Cada mesa ou simpósio está diretamente ligada à temática central do congresso, mas por razões de interesse específico, reúne uma série de comunicações que giram em torno desse subtema. Assim, por exemplo, em um Congresso de Comunicação é comum conseguir um ou mais simpósios sobre narrativas audiovisuais, outros sobre jornalismo, outros nas redes sociais, alguns sobre publicidade, outros sobre comunicação corporativa, outros sobre educomunicação, e assim por diante. Isso faz com que os pesquisadores se reúnam em torno de seu tema de especialidade, o que facilitará o debate e melhorará a qualidade das discussões.
Comunicação de pesquisa em andamento e divulgação
A participação de pesquisadores em um congresso pode ocorrer bem no meio de uma pesquisa (pesquisa em andamento) para a partilha de reivindicações, justificativas, questões de pesquisa, comentários, objetivos, hipóteses e até resultados preliminares; ou quando a investigação tenha chegado ao fim e apresente resultados consolidados. Quando pesquisadores participam de um congresso para apresentar pesquisas em andamento, eles buscam o seguinte:
• Dar visibilidade a um grupo, rede ou equipa de investigação, informando outros investigadores participantes do evento sobre as atividades que estão sendo desenvolvidas no âmbito de um determinado projeto.
• Testar perante uma comunidade científica reduzida a relevância e adequação do âmbito, foco e objetivos da investigação a ser realizada.
• Obter feedback de outros pesquisadores que podem melhorar a qualidade do estudo em andamento.
• Fomentar a organização em rede para atrair outros pesquisadores, grupos, redes e centros de pesquisa que possam se interessar pelo projeto.
• Buscar mecanismos de financiamento para dar continuidade ao projeto apresentado.
As pesquisas em andamento costumam ser comunicações curtas que duram entre 3 e 5 minutos, dando mais espaço para debate no simpósio, entendendo que sua finalidade é justamente essa: obter diversos feedbacks que permitam melhorar ou redirecionar a pesquisa em desenvolvimento. Por outro lado, as comunicações de divulgação são sobre pesquisas concluídas, mesmo publicadas em outros meios de comunicação (artigos, capítulos, livros, relatórios …), cujo objetivo é dar visibilidade ao estudo, em especial aos seus resultados, conclusões e implicações. É importante notar que, embora seja admissível a participação em comunicação já publicada em outros meios de comunicação, se o congresso decidir em conjunto com os autores publicar a comunicação em livro de atas, revista científica, anuário ou qualquer outra plataforma, tem de ser inédito, pois do contrário significaria autoplágio -com tudo o que eticamente isso acarreta-. No entanto, existem congressos em algumas áreas que permitem que o conteúdo de outro documento publicado ou reproduzido na íntegra, com a autorização prévia do titular dos direitos de reprodução e, claro, com a indicação adequada da fonte de onde o texto foi extraído.
Recomendações a serem consideradas ao participar de um congresso
Os congressos têm se tornado uma fonte de receita muito importante para algumas entidades, principalmente em países onde a participação de pesquisadores em muitas delas é exigida para obtenção de credenciamento, acesso à Universidade ou ascensão docente. Nesse sentido, esses tipos de atividades têm se proliferado, embora em muitos casos não sejam mais do que um evento – até mesmo virtual – no qual não há o menor vestígio de pesquisa.
A primeira recomendação na hora de optar por participar de um congresso é o seu endosso ou afiliação, pois assim como existem revistas predatórias, também existem congressos dessa natureza. Por este motivo, recomenda-se priorizar aqueles que são organizados por sociedades e associações científicas reconhecidas, como, no caso da Comunicação, a International Communication Association (ICA), a International Association for Media and Communication Research (IAMCR), a Associação Latino-americana de Pesquisadores em Comunicação (ALAIC), a Associação Europeia de Investigação e Educação em Comunicação (ECREA), entre outros.
Da mesma forma, há congressos que, embora não sejam organizados por associações e sociedades, tornam-se referências internacionais pela longa história, composição da comissão científica, relevância de seus organizadores e endossos internacionais.
Se o objetivo de participar de um congresso é encontrar um espaço para apresentar pesquisas, buscar feedback especializado, debater com colegas, contribuir com observações e recomendações em outras apresentações, fazer networking e, em última instância, dar maior visibilidade aos pesquisadores e seus trabalhos, você deve escolher participar em conferências referentes à área específica do conhecimento, evitando a todo custo aquelas conferências genéricas ou disciplinares amplas (como os Congressos de Ciência, Tecnologia, Arte, Humanidades e Ciências Sociais e da Saúde).
Da mesma forma, é prática comum que os congressos, para se tornarem mais competitivos no mercado, além do livro de resumos que compila os resumos das pesquisas que serão apresentadas em cada mesa ou simpósio, façam um livro de comunicações completas – geralmente com editorial reconhecido, e até mesmo ter convênios com algumas revistas científicas da área para que as melhores publicações (na opinião de uma comissão de avaliação) passem por peer review nessas revistas. No entanto, não é uma prática ética ou responsável dos congressos garantir, com a aprovação exclusiva de um resumo e pagamento da inscrição, que todas as comunicações serão publicadas em revistas ou obras coletivas, pois isso reduz a seletividade das publicações, afetando a qualidade do produto final e, em última instância, o nome e a reputação dos pesquisadores implicados.
Por fim, há congressos que se realizam em pontos turísticos, de forma que os pesquisadores aproveitem para fazer passeios. Embora não neguemos aqui a adequação de combinar a agenda científica com a agenda social, mesmo para networking, esse tipo de encontro deve ser duplamente revisado com base em sua trajetória, reputação, membros do comitê científico e endossos institucionais. Aqui é preciso lembrar que a eficácia da participação nos congressos não se mede nas fotos que publicamos, mas nas anotações no caderno, nas ideias de pesquisa, na divulgação de nossos estudos e na novos contatos que conseguimos fazer, ainda mais quando os recursos que utilizamos para frequentar são de Universidade, projeto de investigação ou do Estado.