Autor: Luis-Miguel Romero Tradução: Vanessa Matos
https://doi.org/10.3916/escuela-de-autores-153
Não há convenções genéricas aplicáveis a todos os campos e disciplinas na ordem das autorias em artigos científicos. Nem mesmo um acordo internacional. Pesquisadores da área de Artes e Humanidades tendem a se livrar disso, já que o mais comum é que a autoria de seus artigos seja apenas de uma pessoa – ou no máximo de duas-; mas no campo das Ciências (Sociais, da Saúde ou Básicas) é comum que os pesquisadores se deparem com este dilema, principalmente em equipes cada vez mais internacionais e multidisciplinares.
O caso das Ciências Sociais, embora seja o mais simples entre os três listados, (pois, geralmente, a quantidade de autores varia entre 1 e 3 e, em casos extremamente justificados até 5) costuma ser muito árduo porque sempre surge o debate quanto a quem figurará como primeiro ou último lugares, bem como se o do «meio» é o que menos contribuiu ou, melhor ainda, qual é a opinião que eu acho que é aplicada pela agência de avaliação que financia a pesquisa (No caso brasileiro: Capes, CNPq, Fundações estaduais de amparo à pesquisa, dentre outras). Essa situação se coloca justamente porque os critérios e escalas não costumam ser muito explícitos ou transparentes, deixando às comissões a reivindicação pública que lhes confere amplos poderes de interpretação e soberania que pode, não raro, resvalar para a ambiguidade normativa.
A lógica, a justiça e a ética ditam que a ordem dos autores deve ser relativa à quantidade de esforço que cada um colocou na pesquisa e na redação do artigo. Uma espécie de sistema de pontuação que, em 1985, Roger B. Winston (artigo disponível em: https://doi.org/10.1002/j.1556-6676.1985.tb02749.x) explicou, pode ser visualizada na seguinte tabela:
Categoria da atividade | Pontos | Método de atribuição |
Conceituação e refinamento de ideias da pesquisa | 50 | Qualitativo |
Revisão de literatura | 20 | Tempo |
Desenho metodológico da pesquisa | 30 | Qualitativo |
Seleção de instrumento | 10 | Qualitativo |
Construção e design do instrumento | 40 | Qualitativo e Tempo |
Seleção do método estatístico | 10 | Qualitativo |
Processamento estatístico e computacional | 10 | Tempo |
Interpretação e análise dos dados | 10 | Qualitativo |
Redação do artigo | ||
Primeiro Rascunho | 50 | Tempo |
Segundo Rascunho | 30 | Tempo |
Reescrita do artigo (por página) | 2 | Tempo |
Edição do artigo e alterações | 10 | Tempo |
No entanto, o que acontece quando as contribuições são quase idênticas? Ainda: o que acontece na pesquisa interdisciplinar em que é difícil avaliar o nível de contribuição e envolvimento do outro? Em tese, neste caso, todos os que figuram na lista de autores devem ser interpretados como primeiro autor mas, como no caso de et al., as agências avaliadoras e mesmo as próprias universidades estabelecem seus critérios de interpretação sui generis, nem sempre publicamente expostos.
Em áreas como Ciências da Saúde e, mais especificamente no campo da medicina, há uma certa convenção de que o primeiro e o último autores foram os que mais contribuíram, enquanto os do meio (em uma espécie de curva), tiveram menos participação. Em outras áreas, como ciências básicas, com listas infinitas de autores em muitos casos, a ordem é estabelecida por critérios alfabéticos do sobrenome do autor, embora alguns periódicos da área de astronomia, por exemplo, priorizem Investigadores Principais (PI) ou laboratório – os coordenadores de laboratório vão na primeira posição, por uma questão de visibilidade, impacto e citação.
Outras convenções que costumam ser aplicadas em alguns campos das Ciências Sociais em países como o Brasil, por exemplo, estabelecem que o último autor geralmente é o pesquisador sênior, que geralmente tem uma contribuição menor na pesquisa e na redação do artigo, mas que auxilia com a conceituação e o refinamento de ideias de pesquisa e desenho metodológico; ou seja, atua como tutor dos pesquisadores que estão iniciando a carreira. Algo muito semelhante costuma acontecer nas avaliações do Sistema Nacional de Pesquisadores (SNI) do CONACYT (México), principalmente com professores de níveis superiores ao SNI 2.
No caso da Espanha, isso seria impensável (entendendo que os organismos de creditação (ANECA, AQU, DEVA, AVAP, ACSUG …) e os mandatos de seis anos (CNEAI e autônomo) são avaliados com os mesmos critérios para todos, seja você novo, sênior ou artilheiro da liga: primeiro autor (bom), último autor (ruim). Não há matizes.
Para resolver essas controvérsias, alguns periódicos conhecidos como o Journal of the American Medical Association (JAMA), The Lancet, British Medical Journal, Science, Nature, Radiology e aqueles pertencentes às mega editoras – como IEEE, MDPI ou Emerald – exigem que seja declarada expressamente no artigo a contribuição de cada autor, o que busca eliminar a ditadura da posição absoluta e relativizar o peso de cada autoria. Da mesma forma, algumas agências de avaliação e credenciamento (como CAPES no Brasil, CONACYT no México ou ANECA na Espanha) estão avaliando – embora não igualmente, dixit – a figura do autor correspondente, o que de alguma forma poderia criar um «segundo primeiro autor» virtual.
É improvável que em um futuro próximo se encontre uma solução definitiva para as controvérsias da ordem de autorias, ainda mais quando suas convenções são tão diferentes em cada ecologia disciplinar e fronteira geográfica. A determinação da importância relativa da contribuição de cada pessoa para a pesquisa continuará a ser uma questão de julgamento subjetivo e negociada entre os autores, talvez por razões meritocráticas, de solidariedade ou de imposição.